RIO DE JANEIRO – A Fifa do vôlei, chamada FIVB (Federação Internacional de Vôlei), quer reduzir a comemoração dos pontos conquistados pelas equipes, a fim de “agilizar as partidas”. Seus peritos descobriram que, entre a bola no chão do adversário e o saque seguinte, passam-se 25 segundos em que as jogadoras correm para o centro da quadra aos gritinhos, abraçam-se numa roda aos saltitos e dão-se mútuos tapinhas na bunda. É um momento lindo do vôlei, que contrasta com a violência das cortadas e o sofrimento dos bloqueios.
Os burocratas querem cortar dez segundos de cada “festinha” -leia-se o tapinha na bunda. Mas vejamos. Uma partida normal de vôlei, sem o tie-break, termina com placares médios de 25 x 20 nos três sets. São 135 pontos conquistados pelas duas equipes. Supondo que todos sejam comemorados com tapinhas, e como um tapinha, segundo as últimas aferições, não passa de 1 segundo, teremos 135 segundos de bola parada -reles 2’25”.
Isso, claro, no vôlei feminino. No masculino, são raros os tapinhas na bunda. Os jogadores se estapeiam com as mãos ou colidem as costelas, o que toma mais tempo do que os tapinhas -mas também não justifica o mau humor dos burocratas.
O mesmo mau humor que quer impedir que, no futebol, os jogadores comemorem os gols com a torcida na escadinha. A mesma disposição para reprimir a espontaneidade dos atletas, esfriando as partidas e exigindo que os torcedores se comportem como ingleses.
Nos anos 70, o Brasil tinha um campeão internacional de xadrez, o Mequinho. Certa vez, ele enfrentou um russo na quadra do Maracanãzinho, com a torcida na arquibancada e tabuleiros eletrônicos no teto. O jogo transcorreu num silêncio de arrepiar. Até que alguém não suportou o suspense e gritou lá de cima: “Come o cavalo dele, Mequinho!!!”.
Ruy Castro
Fonte: Folha de SP