Megaoperação foi deflagrada para prender 96 PMs, 70 traficantes e outros integrantes de esquema em São Gonçalo. Investigação começou a partir de delação.
A ação foi deflagrada a partir de uma delação. Segundo Barucke, alguns dos policiais presos já manifestaram a intenção de fazer novas delações sobre o esquema.
“Pela minha experiência profissional, a vida de traficante é uma vida curta. Muitas vezes são presos sem que a gente precise procurar, pela Polícia Militar. Porém, esses maus policiais davam cobertura a eles”, explicou o delegado.
Segundo o secretário de Segurança do RJ, Roberto Sá, a polícia luta para se renovar e eliminar os agentes que não tem uma postura correta. “Desconheço instituições que cortem na carne como as polícias. Não é simples, mas necessário. A gente segue adiante. A sociedade precisa de nossas instituições”, explicou Sá.
O comandante-geral da Polícia MIlitar, coronel Wolney Dias, falou sobre as prisões: “Essa instituição está sangrando, perdendo a vida em prol do Estado do Rio de Janeiro”, destacou o PM.
“Não compactuamos com qualquer desvio de conduta. Não queremos os maus policiais nas nossas fileiras. Se precisar excluir 90, 900, 9 mil, não importa. Nós não os queremos na nossa instituição. O policial que trai o seu dever de ofício não é digno de vestir a farda da Polícia MIlitar”, explicou o comandante da PM.
Segundo o Ministério Público, programas de reconhecimento de voz foram usados como uma maneira de comprovar o que foi dito por uma fonte que denunciou o esquema. “Fizemos um confronto de voz e, com base em programas de tecnologia fizemos um relatório de inteligência que provaram que os policiais citados por um colaborador estavam nas unidades citadas”, explicou o promotor Antônio Pessanha.
Os 96 PMs alvos da operação são suspeitos de participar de um esquema de cobrança de propina a traficantes que rendia, mais ou menos, R$ 1 milhão por mês aos militares. Alguns desses policiais ainda estão nas fileiras do efetivo do 7º BPM (São Gonçalo).
A operação para prender os envolvidos, batizada de Calabar, conta com 800 agentes e 110 delegados, que deixaram a Cidade da Polícia, no Jacarezinho, Zona Norte da cidade, às 5h.
Os policiais detidos irão responder por organização criminosa e corrupção passiva. Já os bandidos respondem por tráfico, organização criminosa e corrupção ativa. O nome Calabar é uma referência a Domingos Fernandes Calabar, considerado o maior traidor da história do país.
A investigação mostra que os PMs atuavam como “varejistas do crime” e chegavam a ofertar serviços diversos a traficantes. Por exemplo, os militares escoltavam os chamados “bondes” de criminosos de um local a outro, e até alugavam armas da corporação, incluindo fuzis, aos traficantes.
Há casos também, segundo a polícia, de sequestros de traficantes realizados pelos PMs. Nas escutas, os agentes identificaram que os militares chegavam a cobrar R$ 10 mil pelo resgate de bandidos.
Outra das conclusões do inquérito é que todas as semanas, de quinta-feira a domingo, as viaturas do batalhão circulavam por ruas de São Gonçalo exclusivamente para recolher o “arrego” que, no jargão, é a quantia paga por criminosos a policiais para não atrapalhar os negócios de bandidos. O valor cobrado pelos PMs variava entre R$ 1,5 mil e R$ 2,5 mil para cada equipe de policiais que estava de plantão.
Agentes que investigaram o esquema estimam que a venda de favores e cobrança de dinheiro a traficantes rendesse, pelo menos, R$ 350 mil por semana aos PMs que estavam no Grupamento de Ações Táticas (GAT), Patrulha Tático Móvel (PATAMO), Serviço Reservado (P-2), no Destacamento de Policiamento Ostensivo (DPO) e Ocupação (uma espécie de “UPP” de São Gonçalo).
Em nota, a Polícia Militar publicou a seguinte nota: “Policiais militares, todos nós iniciamos o dia de hoje incomodados pela operação que está em curso. Sentimos na própria pele toda vez que policiais militares são acusados de crimes graves. Mas não podemos deixar de ressaltar que se trata de uma operação necessária para nos fortalecer. A operação de hoje, ao contrário do que alguns querem construir, teve participação constante da Corregedoria Interna da PM, o que mostra que não foram órgãos externos que protagonizaram essa ação. Desafiamos outro órgão correcional de qualquer segmento profissional a mostrar resultados tão contundentes quanto a Corregedoria da PM na apuração de desvios e exclusão de seus agentes.”
Fonte: https://goo.gl/LGKB2j